Logo que cheguei em Porto, lá da minha terrinha amada Giruá, me espantei com duas coisas: a Av. Osvaldo Aranha em dia de domingo e um bar de nome: Garagem Hermética. Ali vivi parte da minha vida, entre a avenida e o sobrado que abrigava a cena mais underground da cidade. Foi lá que vi Wander Wildner, Julio Reny, Jupiter Maçã a primeira vez... vi, ouvi e gostei para nunca mais deixar de ouvir. Foi lá que meu amigo Kafu fez a "ceva de fralda" do filhinho que estava chegando...
Piegas ou não, hoje quando li a despedida do Garagem da vida dos portoalegrenses - e daqueles que, como eu, foram não só acolhidos pela cidade como também por aquele lugar especial - bateu uma saudade, misturada com tristeza e um grande sentimento de gratidão.
Era lá que o rock independente atuava... e não pense que ele mandava recado... não! Ele tinha a cara, as roupas e o comportamento das pessoas que lá andavam. Era a cara da cidade e eu... encantada, por lá passava sempre que podia...
Depois - e aí vão uns dez anos - conheci o querido amigo Fernando Nazer, a quem rendo todas as minhas homenagens. O cara foi forte, com a veia da guerra correndo, lutou para que a cidade não perdesse sua identidade (sim, porque perderia, ou pelo menos parte da cidade, sem aquele exótico lugar), mas... infelizmente, a cidade não tratou o Garagem Hermética como deveria e ele esbarrou na burocracia e má vontade política... caiu, levantou, caiu de novo e, sempre lutador ... levantou mais uma vez. Guerreiro, honrado, lutou para manter sua identidade e não cedeu. Até o final, rezou sempre a mesma cartilha. A cartilha da independência...
Hoje, a cidade está orfã. E digo isso para quem conheceu e para quem não conheceu o Garagem Hermética... Sim, a cidade está pobre culturalmente, mais do que já estava.
Que pena,
Que pena mesmo...
Mas uma coisa é certa e escorreita, o Garagem vai ficar na memória e no coração daqueles que como eu puderam ter o prazer de subir aquelas escadas e dar de cara com o bom, independente e velho som...
Obrigada Garagem Hermética!
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