sexta-feira, 7 de setembro de 2018

FLIP à primeira vista



    Pisar pela primeira vez naquelas ruas de pedras escravas foi tão emocionante quanto cruzar a ponte e me deparar com uma estrutura gigante, moderna e impecável que prometia abrigar dias de literatura, informações e, sobretudo, muita arte à beira mar. 
   Arte vinda de todos os lados, livros brotando das árvores da praça, circo, tendas e gente, muita gente vinda de tantos lugares para celebrar a literatura e, muito mais, para celebrar o encontro em nome da palavra. A palavra dita, escrita, musicada e a palavra silenciada, aquela que se pensa mas não se fala. 
    Assim passaram-se cinco dias de muitas letras e, confesso, por vezes, faltou-me ouvido e olhos para tanta novidade. Mas não faltou lucidez para contemplar, observar e absorver aquele emaranhado literário em que me encontrava. Cinco dias da mais fina percepção e arrepiante sensibilidade que tomou meu corpo e minha alma.
     Não quis perder exatamente nem o suspiro dos pássaros. 
É, a FLIP provocara em mim uma sede deserta por tudo o que ainda não sei, que me escapa a compreensão.   
     Das pedras que formam o chão de Paraty ao céu azul que cobriu a cidade nestes encantados dias que lá passei, tudo o que estava entre estas duas perspectivas – chão e céu – foi digno do que posso chamar de amor. Do primeiro cartaz que li quando cheguei ao assunto mais complexo das mesas apresentadas, nada foi dispensado. 
    E foi caminhando por aquelas ruas históricas que eu e meus melhores companheiros nos encantamos, nos emocionamos e nos embriagamos de leituras, conversas, ritmos e da mais autêntica cachaça.
    A consagração de autores clássicos e indispensáveis, como o homenageado da festa  Graciliano Ramos, e a novidade dos jovens pensadores, ensaístas, literatos, filósofos de rua, entre tantos artistas, inundaram-me completamente.
      Até agora estou vivendo Paraty e sua FLIP.   
    Ainda absorvo as palavras ouvidas, citando como exemplo uma expressão que me marcou e já nem lembro mais seu autor: "Graciliano Ramos é hoje o sal necessário". O “sal necessário”, aquilo que se precisa e que não abunda. O necessário, a medida certa.
     Concluo, então, que a FLIP, para mim, é o sal necessário para manter a saúde da vida.
     Gente de todos os lados e a linha da literatura costurando a cidade, fazendo com que aquele grande pano de palavras agregasse todas essas gentes e fizesse de Paraty um lindo vestido.
     E foi assim que, vestida lindamente, Paraty fez uma magnífica festa, regada de palavra, cachaça e felicidade.  

Escrito em 09.07.2013 e postado hoje em virtude da saudade destes dias de festa literária.




quinta-feira, 7 de dezembro de 2017


E na bagunça do meu coração, 
sei exatamente onde as coisas estão.

(Patricia Nubia Duarte)


sábado, 26 de novembro de 2016

LIVROS


               
              Digo sempre que a escolha da leitura depende do que se está vivendo.
             A escolha de um livro é ou deveria ser, portanto, sempre atual. É que muitas vezes escolhemos um livro e, já nas primeiras páginas, o deixamos de lado. Isso nada mais é do que livro equivocado para o momento errado.
            Aconteceu comigo muitas vezes e como sou pessoa que gosta de terminar tudo o que começa, abandonar um livro sem terminá-lo era demasiadamente sofredor e um atestado de fracasso sem precedentes para uma virginiana como eu. 
           Depois de muita dor e na ânsia de me libertar da terrível sensação de fracasso que me absorvia a cada vez que, vencida, abandonava a leitura antes de chegar à página 50, resolvi dedicar tempo para resolver essa quisila e me sentir livre para continuar ou estancar a leitura.
             Encontrei uma razão que me sossegou. Descobri que a escolha errada talvez fosse a causa da dor do abandono do livro. E era.
          Descobri que comigo é assim: o livro necessariamente deve identificar-se com o momento que estou vivendo. Tarefa que cabe a mim  e não ao livro, evidentemente. Bem, mas isso não quer dizer que meu problema havia terminado e que a partir desta descoberta seria muito mais fácil escolher o próximo título. Não. A escolha continuou e continua sendo tarefa árdua, porém, se eu não tiver vontade de continuar a leitura, deixo-a  de lado, sem culpa. Não me sinto fracassada, nem triste. Sinto-me livre.
             Volto o livro à estante e falo:
             - Não é o momento. Esse há de chegar e eu volto aqui para buscá-lo.  
            Para encerrar esse pensamento, deixo aqui alguns livros que li e que fizeram parte dessa descoberta, de que somos livres para escolher o queremos ler e, também, livres para não terminar um livro. Não significa fracasso, significa que ... ah! Depois você termina. 

KUREISHI, Hanif - Tenho algo a te dizer

HOLANDA, Chico Buarque de - Gota d'água 

HOLANDA, Sérgio Buarque de - Raízes do Brasil

ESPANCA, Florbela - Sonetos

RIBEIRO, João Ubaldo - A casa do Budas ditosos

GUTIERREZ, Pedro Juan - O Rei de Havana

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Da janela da minha vida, 
vejo o mar e o horizonte, 
a imensidão do céu
que insiste em avisar: 
- O mundo é bem maior do que cabe em seu olhar.

Então, abro bem a janela e pulo para a vida, 
atravesso meus pensamentos
e vejo um mundo sem janelas e sem portas, 
sem chaves ou trancas. 

Sou livre, 
olho ao redor, 
sinto a energia da vida
que se propaga no ar. 

(Patricia Nubia Duarte)




sábado, 23 de julho de 2016

VOLTEI

Meu processo de escrita e da necessidade dela iniciou-se com a vontade de externar um pouco daquilo que eu sentia ou inventava na forma de letras. Contudo, depois de algum tempo brincando com as sensações (e porque não, sentimentos), com minhas observações e disponibilizando meus devaneios no mundo virtual, ingressei em processo introspectivo, interno e escondido.

Sempre jogando palavras ao ar virtual, ligando-as com imagens as quais eu achava interessantes captadas no multiverso da internet, eis que me deparo, em determinado momento, com auto-críticas avassaladoras e desmotivadoras. 
Então parei. 
Estanquei. 
Agora, passado algum tempo (três anos e quatorze dias, especificamente), na inquietude de meu silêncio que não vingou, retomo a escrita.

E recomeço relendo o que foi escrito e em tantas palavras que a caneta praticamente deu vida, contudo não passaram do papel, da caneta e de meu sentimento e de como ele agia em mim.
Se afirmar que nada eu reescreveria, estaria mentindo. Reescreveria, repensaria, repetiria muitas coisas, mas outras, faria de forma diferente...
Digamos que se esse exercício fosse realizado com afinco eu poderia chama-lo de "remake pessoal"!

Bom mesmo seria se várias vidas me fossem permitidas. Tantas quanto bastassem para a completude dos tantos "eus" que cabem em mim. O que nao é privilegio somente meu, certamente.

Reafirmo a vida e gosto do passado escrito, que releio incansavelmente, talvez por meses ate tomar a decisão de voltar aqui. Assim, depois de mais de três anos afastada deste meu lugar, muitos escritos ficariam como estão, porque me retrataram, outros, porque continuam latentes.

Volto no tempo e penso: Graças que parei, que mudei, que reinventei, que observo o que foi dito, como foi dito e porque foi dito. Critico o que já disse e o que já pensei um dia. Penso as mesmas coisas, experimentos os mesmos sentimentos, mas também experimento outros, os pensamentos vem e vão... alguns foram, outros voltam, outros se inovam a cada dia..

Recomeço, em suma, como comecei o blog, de coração aberto e, aqui, exposta a toda critica, paciência e benevolência próprias do ser humano.

Agradeço aos meus queridos da Oficina Boca de Leão que, mesmo sem saber, encorajaram-me e despertaram, novamente, meu desejo de escrever. 

Então, avante! E como toda a casa que merece mudanças, aos poucos o blog ficará de cara nova, mas com a mesma cara, se é que posso me fazer entender! 


terça-feira, 9 de julho de 2013

E me convenço a cada dia que passa 
de que a comunicação é uma arte
 e sua completude residente em dois verbos: 
falar e  ouvir...
E como toda arte, bem feita, requer talento.
E todo talento é precedido de um dom...
Eis, assim, que a comunicação é para poucos... 
nem todo mundo tem o dom.

Sempre que erro 
ou acho que erro,
peço desculpas.
Questão de dignidade...