terça-feira, 26 de julho de 2011

Dois e dúvida

"...

"Odo Marquard falou, não necessariamente com ironia, do parentesco etimológico entre zwei e Zweifel ("dois" e "dúvida") e insinuou que o elo entre essas palavras vai além da simples aliteração. Onde há dois não há certeza. E quando o outro é reconhecido como um "segundo" plenamente independente, soberano - e não uma simples extensão, eco, ferramenta ou empregado trabalhando para mim, o "primeiro" - a incerteza é reconhecida e aceita.

Ser duplo significa consentir em indeterminar o futuro".


(Zygmunt Bauman, em O amor líquido)

Sempre que quero um pouco de explicacões lúcidas, realidade, nua e crua (traduzindo), leio Bauman. Hoje lancei mão do "O amor líquido" da prateleira, tirei o pó e abri em uma página, aleatoriamente.

O livro todo riscado, rabiscado... e as diferentes cores de tintas de canetas lembram-me de todas as oportunidades em que dele recorri para entender melhor o que acontece na vida e que, tão estranhamente, transforma-se em sensações. Eis que abro nessa página e lá estava, em canetinha rosa - fazendo-me relembrar do dia em que o li pela segunda vez. A primeira estava embaixo da rosa e era azul ...rsrsrs - , marcado esse trecho. A partir dele segui lendo e, bem depois, ao fechar o livro, dando-me por satisfeita, volta em mim esse trecho que transcrevi e que foi o responsável por encerrar meu dia com um pouco de lucidez e a sensação de que o futuro é previsível, mas não determinado.

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